terça-feira, 20 de dezembro de 2022

o tempo desta manhã foi passando rapidamente.
[não acontece muitas vezes]
mas hoje qualquer coisa fez com que o tempo caminhasse à velocidade da luz…
e logo hoje que eu queria somente observar-te
[não sei se observar se sentir, decidirei mais tarde]
o que sei é que todos os dias guardo cá dentro palavras para te dizer
palavras simples, que vêm de um coração inquieto e que caminham na orla das artérias.
[nada de veias, que essas são somente para o sangue conspurcado]
caiu a noite.
saí.
queria levar-te pelas ruas pouco iluminadas,
mostrar-te o brilho da lua refletido no corpo que deitaste ao meu lado
[o teu corpo]
e o silêncio pesava…

podíamos fazer amor
ali,
aqui,
agora,
amanhã,
espasmos,
orgasmos,
vontade…

tudo tempo,
tudo lugar,
tudo prazer
tudo querer.

e é manhã…




quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

regresso.
em passos soturnos vou desfazendo o caminho…
no ar antevê-se uma névoa que deverá chegar pela noite.
apetecia-me contar uma história.
uma história do tempo em que a chuva se demorava
sobre o contorno dos teus lábios
e eu me cruzava contigo na dureza dos dias.

regresso.
a casa fecha-se.
abraço o cansaço
e escrevo o inverno…





domingo, 4 de dezembro de 2022

 

dou comigo a pensar sobre o acto de escrever…
importa escrever? e o quê? olho a folha em branco e espero que duas frases caiam nela por mero acaso, assim quando chegasses tinha algo novo para te ler [dizer] já que andamos tão parcos em palavras.
mas nem as palavras caem nem tu chegas.
há um silêncio devastador, ruidoso até, que me exaspera…
lá fora a chilreada dos pássaros guarda a entrada da noite.
continuas sem chegar e eu sem ter inspiração.
o cão ocupou o sofá e a televisão debita notícias tristes, alegres, tristes… num carrocel de palavras descontinuadas.
os carros continuam a passar na rua sem parar, sinal que não és tu…
caiu a primeira palavra em azul no papel branco: hoje
pego no telefone.
preciso de saber se vais chegar
cobardemente pouso-o no mesmo local sem ligar.
sento-me no sofá, incomodando o cão que tinha chegado primeiro. fecho os olhos…
continuas a faltar tu.




quinta-feira, 20 de outubro de 2022

anoitece no quarto
pouso o corpo devagar na cama debruada a memórias.
o meu corpo.
preciso adormecer. há sonhos que valem cada segundo
mas antes penso em ti.
serve de prólogo ao sonho e ao mesmo tempo encurto a distância que me separa dos braços de Morfeu.
lá fora a chuva fustiga as vidraças,
cá dentro procuro um abraço.







quarta-feira, 12 de outubro de 2022

 

chegaste à cozinha envolta no lençol de linho branco que é  testemunha da noite que guardamos no quarto
o teu beijo de bom dia espalhou amor por cada canto e recanto do meu corpo que é teu
a tua respiração fixou-se no abraço
demoro-me na tua cintura
estou para além de um qualquer desejo…
quero-te!




segunda-feira, 10 de outubro de 2022


os dias chegam atrasados ao amanhecer.
a culpa é da noite que se demora nos corpos dos amantes…
primeiro na viagem sem sexo, depois com sexo seguida de um arfar da escuridão, para culminar num silêncio de gotículas feito e que escorrem pelos poros acabados de abrir.
ainda bem que é culpa da noite…
os dias chegam muito a tempo.
trazem a luz que ilumina e me deixa ver cada contorno do teu corpo, esse corpo por onde passeei…
trazem a luz que mostra os lábios que me visitaram e me fizeram trepar por todas as constelações.
resta-me sentar na soleira voltada a sul e esperar que também esta noite faça o dia chegar atrasado.



sexta-feira, 7 de outubro de 2022

uma história em 5 frases

gosto de estranhar o teu corpo junto ao meu.
é bom agarrar-te. puxar-te para mim.
os meus dedos despem-te…
quero-te!
e os meus lábios são fechados pela tua boca.





segunda-feira, 19 de setembro de 2022

 

tens os sonhos nas mãos e os pensamentos prontos a ser disparados pela boca
dos teus cabelos solta-se o aroma do amor feito nos lençóis de linho alvo.
olho-te…
a tua nudez é pura como o orvalho da madrugada
e a vontade liberta-se nos muitos poros abertos pela luz do luar.
amanhã vou namorar-te na soleira virada a sul
e dizer-te do olhar que resplandece no dourado do sol.
à noite, quando a penumbra esconder os dias em pontas perdidos no redondel
e as palavras-letras forem açoites que assinalem o poder
vou dizer-te que o amor não tem medida
e ficarei dentro de ti.






sábado, 20 de agosto de 2022

 

peço-te um beijo. depois meto as mãos nos bolsos e aperto os dedos.
aguento a vontade de te abraçar…
fecho os olhos. damos as mãos.
brincamos ao jogo das palavras,
tu dizes a palavra vento e eu espero o embate da brisa.
depois…
depois enfrentamos o anoitecer,
o amor,
a madrugada…

um dia vou pedir-te que vivas comigo
temos tempo para viver de mãos dadas.




sábado, 13 de agosto de 2022



olho os telhados da cidade. a manhã apresentava-se limpa. o mundo continuava a debitar tragédias pesarosas e o homem baloiçava a patetice…
escolhi o dia de hoje para te escrever umas quantas linhas. gosto que sejas com quem partilho os trambolhões e os pódios dos dias. gosto que seja o teu sorriso a saber das coisas vulgares e também das eruditas. gosto que seja o teu olhar a ler as palavras e também os silêncios. é a similitude que nos atravessa e nos faz cúmplices.
hoje é um daqueles dias de nada.
bebo cafés, falho as notícias enfadonhas e procuro o meu tempo…

sabes, faz-me muita falta as tuas mãos coladas às minhas
e o teu beijo guardado no meu céu da boca.
é bom escrever-te.



sábado, 30 de julho de 2022

 

tenho saudades da Casa Azul. saudades do sol a entrar pelas janelas, muito cedo, e a espalhar-se pelo chão de madeira cor de mel e pelos mosaicos vermelhos que revestiam o chão da cozinha. ainda era a hora do silêncio, da quietude, do sabor a uma leve neblina que já levantara…
tenho saudades das árvores que se espalhavam pelos três socalcos que compunham o quintal. a figueira, as laranjeiras os pessegueiros, a nespereira carregada de antiguidade… e a parreira de moscatel de Amsterdão a mexerem com o vento.
tenho saudades de tomar banho de mangueira no terraço e de apanhar as uvas da janela do meu quarto.
tenho saudades do entardecer e de cada um dos recantos da casa.
mas do que tenho mais saudade é do calor humano que brotava daquelas paredes carregadas de uma história ímpar dividida por várias gerações.
ainda bem que há saudades que não se perdem.





sábado, 16 de julho de 2022

 

a minha voz procura-te porque
gosto [sempre gostei] da tua beleza sensual e da tua inteligência, da forma como brilha o teu olhar, de conversar, de admirar-te e sentir na pele o arrepio, o desejo de querer-te e de te possuir.
depois…
depois a água quente no corpo e ficar

tenho saudades tuas…



segunda-feira, 11 de julho de 2022

a mala pronta a seguir viagem.  
vou partir sozinho. 
sei que mesmo distante escuto-te a voz. 
na retina os momentos por que passámos. das ruas por onde caminhámos ao anoitecer. 
ao alcance dos corpos o calor, o frio, o sexo...
o dia que termina. 
as luzes acendem-se com o cansaço. 
a despedida. 
a viagem. 
a vida.
a mala está pronta, 
vou partir e tu vais (sempre) comigo...



o tempo foge e nós nem damos por ele...
usamos a ilusão de fabricar a vida: histórias, partilha de sons, gestos, fantasias...
as estações passam e nós inventamos novas palavras e tocamos os dedos às escondidas - o amor - e há poesia
porque poesia também é amor





quarta-feira, 6 de julho de 2022



gosto de saber-te perto, de querer-te perto, de desejar-te perto. 
é bom imaginar-te a caminhar na rua a acariciares a cidade. tudo é tão teu. 
depois do teu caminhar e do meu imaginar-te chegamos juntos à cama e deitamos delicadamente os nossos corpos. 

os dias esquecidos inventa-os a memória 
mas respirar-te é saber-te na proximidade de nós



quinta-feira, 23 de junho de 2022

era uma vez uma parideira.
a parideira foi dando à luz numa avidez desmedida
a prole foi sendo distribuída.
ficou uma.
a que ficou, foi avaliada em 400 euros.
3 anos e um preço que toca a mediocridade dos que permitiram a sua partida para lá de todas as longitudes.
e a parideira chorou.
mas a parideira não era mãe...

(uma história pequena carregada de fel contra quem não soube ser mãe)

segunda-feira, 20 de junho de 2022

 

passei o dia a sonhar-te pelos cantos porque todos os cantos da casa me fazem lembrar de ti.
sonho-te e sinto a tua falta.
espero-te.
tenho para te dizer palavras doces na serenidade do [quem sabe] irremediável.
sei que tenho o coração trespassado por lâminas que já não existem
mas os dias são repletos do sentir a tua falta.
sim. sinto

gosto de subir as tuas escadas



quinta-feira, 16 de junho de 2022

ardem as horas madrugada dentro e as minhas mãos combatem “o silêncio” debitando palavras que serão a história viva dos desencontros doridos dia após dia, mês após mês, ano após ano, que ficaram sempre por acontecer.
o som dos dire straits apazigua o sentir inflamado. you and your friend… nem de propósito.
a vida nem sempre é mais-que-perfeita. por vezes atrapalha…
o gostar é uma coisa assombrosa. um sussurro quase inaudível, até silencioso, uma respiração que percorre o peito.
arregaço as mangas e espero pela primavera, porque a primavera volta sempre...



segunda-feira, 13 de junho de 2022

 

hoje não cantei parabéns a ti…
também não fazias anos! mas podias fazer.
se fizesses eu cantava, encostava-me a ti e falava [conversava fica melhor, não acham?] contigo, comia uns salgados, bebericava um vinho e entusiasmava-me com o partir do bolo.
mas nada disto aconteceu hoje. talvez amanhã!
liberto destes pensamentos deambulo pelas esquinas feridas pelo vício…
o tempo corre e eu corro nele até que pare...
regresso a casa.
vou fazer café…
queres?

(gosto de nós)



sexta-feira, 10 de junho de 2022

 

acordo com a casa em silêncio e grito bom dia como se alguém me escutasse…
olho-me ao espelho, sento-me na cadeira que serve de cabide à minha roupa e espero que o tempo vá passando.
espreito à janela, a nudez das árvores aconchega-me o olhar e as memórias contam-me sentires de ontem, da semana passada, do mês passado… de anos.
esta noite queria coisas bonitas[boa noite serve]. só quero. eu quero. até poderia dizer só queria mas digo quero-te, porque é mesmo o que eu quero.



segunda-feira, 6 de junho de 2022

saberei eu escrever sobre nós?
roda o disco no prato. a agulha já conheceu melhores dias. mas mesmo assim, Lou Reed em Coney Island Baby continua a ser Lou Reed em Coney Island Baby…
sem lirismos bacocos, mas repleto de lembranças, deixo as mãos fazerem o poema.
e se um dia quiseres partir, deixa-me somente uma pista, que me faça encontrar-te todas as noites.



segunda-feira, 23 de maio de 2022

 

e a náusea é um grito lançado na penumbra dos dias. olho os espelhos trazidos pelas marés que invadem o cais de tanto descontentamento.
há olhares a confiscar o horizonte. não veem.
pela cidade passeia gente que traz nas mãos o medo da morte e nos lábios o desejo de amar depressa…cada um acrescentou-se ao mundo. andam em roda e perderam a memória do espaço comum.

e se amanhã chover, irei escorregar pelo dorso das ruas até o anoitecer me amparar.





sábado, 14 de maio de 2022

são dias frágeis...

olho de soslaio as horas... é ainda demasiada madrugada, o sono tinha ficado longe, perdido numa ausência feita dia.
os filmes da pantalha televisiva roçam a mediocridade...
as notícias lançam anátemas sobre cada um de nós com guerras feitas à medida de loucos comandados à distância.
na ausência salvam-se as palavras espalhadas pelas páginas do nosso contentamento, páginas que nos abrigam, cuidam...
páginas que nos dão colo 
faz-me falta encontrar a presença.
sentir o sentir.

são dias frágeis