Por dentro nunca abandonamos o local onde nascemos.
Mesmo que longe, ouvimos-lhe o pulsar, a voz.
Na pele estão impregnados os cheiros e os sabores. Os caminhos, as
calçadas, o largo onde jogámos à bola, o muro onde fazíamos deslizar as caricas
apanhadas na venda do sr. Vítor e da menina Felizmina.
E a mata da Pena, qual faroeste, onde índios e cowboys se degladiavam.
As setas feitas de varetas de chapéu zumbiam rente aos ouvidos. Os tiros de
pistola eram simples bolotas que lançadas com força e precisão encontravam
sempre um pouco de carne pelo caminho.
No fim, e para celebrar a paz entre os dois povos, descia-se a mata,
sentados nas cascas de eucalipto prontamente arrancadas às árvores… trambolhão
que fervia. Mazelas que se ostentavam como medalhas de uma guerra onde era bom e
imperioso participar.
E a escola?! A escola… lareira que alimentávamos no Inverno com todo o
gosto… Cascas de pinho e era o estalar em plena aula… Vai uma canada para cada
um.
- Seus palermas, fazem de propósito, mas eu bem vos trato da saúde,
dizia a regente escolar…
Depois eram as miúdas, os bailaricos…
As petiscadas feitas dos assaltos a capoeiras, ou da simples
comparticipação com o que havia em casa
Depois foi a vida.
Outros caminhos, outros largos, outras matas, outros índios e outros cowboys…