sábado, 30 de dezembro de 2023

e pelo meu peito passam os dias…
assim podia começar qualquer história, mas não, esta história começa na sala a escutar a chuva a bater na vidraça.
a noite já aconteceu. a escuridão é quebrada pela nova iluminação, led dizem os entendidos. para mim importa que quebre a negritude…
entretanto a chuva parou. continuo com a minha escrita.
é dia 30 de dezembro de 2023, mas podia ser de um outro qualquer ano
tudo me parece igual…
o tempo continua a rodar livre e apressado em horas e dias esquecidos.
volto ao início

e pelo meu peito passam dias 




quarta-feira, 25 de outubro de 2023

 

Paulo vivia num pequeno prédio mesmo no meio do reboliço citadino.
os dias eram passados quase sempre em casa, mergulhado na sua escrita, nos seus livros, nos seus discos… era o seu pequeno mundo.
a corrida pela sala montado num cavalo de pau enquanto ministrava uma aula de história a alunos do 5.º ano, já tinha abalado o conselho diretivo da escola.
mas o que abalou as estruturas foi mesmo a sua meia nudez partilhada numa aula de geografia dada a uma turma do 9.º ano.
depois de uma visita a uma junta médica recebeu o carimbo de aposentado.
era magro o cheque que recebia pontualmente ao dia 19 de cada mês
pagava a renda, comprava dois livros e a alimentação já não era com abundância.
Paulo gostava de alimentar o conhecimento.
nunca consegui perceber se Paulo tinha “virado a boneca” ou se tudo não foi o concretizar de um desejo de quietude no seu mundo.
talvez nunca venha a saber… mas que importa,
Paulo era feliz




quinta-feira, 19 de outubro de 2023

hoje

hoje foi tempo do fugir da chuva, do vento…
hoje foi tempo de aconchego do sofá, de olhar pela vidraça, de uma conversa de horas a fio se houver companhia
hoje foi tempo para escrever palavras,
algumas bonitas, outras carregadas de raiva

agora é noite e tudo passou…
da chuva ao vento até a uns raios de sol
aproxima-se o horário de inverno, mas não é inverno,
mas há um frio que vai gelando o mundo dia após dia…

(no dia da depressão Aline)


domingo, 24 de setembro de 2023

o dia cresceu cedo.
7h22 e há um acordar de uma noite mal dormida.
estranha-se a cama, as almofadas, talvez até o espaço, enfim…
mas sabe bem a fuga à rotina…
a noite tinha acabado bem.
um café com uma amiga que não era vista à cerca de 15 anos.
a morte de um amigo comum e o trabalho num país distante foram as causas desse afastamento.
depois foi a vida…
pequeno almoço frugal e descida à cidade. 10 minutos por ruas empedradas e estreitas carregadas de história.
chegado ao centro era a feira semanal e das velharias a dar cor e vida à cidade.
o Rossio era um mar de fruta, legumes, queijos, enchidos, artesanato, pratos antigos, livros, toalhas de renda e tantas outras coisas que fizeram parte das casas de outras gentes.
parei sempre nos livros.
numa das bancas o meu poeta preferido numa obra da velha editora Arcádia e com palavras de João Gaspar Simões.
15 euros…
é preciso negociar.
5 euros é o preço final a contento meu e do vendedor.
é tempo de forrar a barriga, como diriam Camilo ou mesmo Júlio Dinis.
depois do repasto é preciso deixar que as maleitas do corpo descansem.





quarta-feira, 16 de agosto de 2023

enquanto escurece eu olho o silêncio que me traz o rumor do vento.
abraço a memória…
os lábios respiram dentro de mim e há uma lânguida inquietude que teima em sujar a limpidez com que saí do banho.
acerco-me da janela…
um gato caminha pelas arestas do tempo.
e se eu fosse gato?
caminhava pelo dorso dos beirais a desenhar despedidas depois de cada véspera de amanhã.

vou para longe.

carrego palavras nos sonhos enquanto espero que me amanheças na pele...



eu sentado com um casaco de estrelas,
tu vinhas com a noite...
nesse momento a porta não era só uma porta.
a porta era mesmo uma porta entreaberta, 

esta porta era a passagem para nós...






quinta-feira, 20 de julho de 2023

 

gosto de escrever.
este acto solitário de aproximar a caneta de tinta permanente de uma qualquer folha de papel, faz-me bem. transforma em palavras tantas visões que teimamos muitas vezes esconder numa qualquer profundeza do cérebro…
escrever é como parir, esse nobre desígnio das fêmeas, é dar à sociedade outras vidas.
mas escrever também é oferecer a nós mesmos, pedaços animados do imediato ou do longínquo.
mas escrever não são só pedaços animados, são também partes íntimas onde depositamos realidades tranquilas e trajetos da nossa existência.
gosto de escrever.
gostava de poder continuar a escrever...




sexta-feira, 28 de abril de 2023

história de uma resposta 


leio, releio e as palavras entram-me na pele.
cada lugar é a descida das escadas da estação primeira.
apetece-me fechar a cidade na hora de ponta ou noutra hora qualquer.
assim podia reter-te em Lisboa
passeávamos pelas ruas da feira do livro e de palavra em palavra faríamos o texto que prometemos a nós mesmos.
gostei que gostasses da minha voz no Natal, mas espero que tenhas percebido que tudo o que articulei nessa conversa se traduz numa palavra: saudade
agora sentado na soleira releio outra vez
fazem-me bem as tuas palavras
fazem-me crer no sentir, porque nada cessa...

segunda-feira, 20 de março de 2023

história de um sorriso

às vezes - quase sempre - tenho saudades do teu rosto nas minhas mãos.

no ar um murmúrio lento…

é tarde.
caminho abandonado pela casa
procurando livros de páginas amarrotadas com palavras ditadas pela solidão.
a janela adoça-me o olhar
lá fora há folhas duras recortadas pelo vento
e sons que brindam à errância dos dias.


pudesse eu um sorriso mesmo na distância…



quinta-feira, 16 de março de 2023

 

escrevo-te, não para te dizer não, mas sim para reforçar o sim.
um sim que atravessa os dias…
e tantos dias, tanto querer de desejo feito e imaginado nas noites de dunas brancas pontilhadas de bicos castanhos
conto minutos na soleira que desenhei em palavras trocadas em madrugadas plenas de encontros no verde de serras míticas
e o peito a guardar olhares em falta
amanhã vou escrever o beijo que nos prometemos...



quinta-feira, 2 de março de 2023


sinto a pele arrepiada.
há um frio que entra pelos interstícios da roupa
e me rouba o aconchego da pele…

é inverno,
os dias trazem vento na voz
e chuva no regaço.

procuro a cidade
quero chegar a tempo de um tempo que já findou
agora que a tarde já escorre pelas paredes.

amanhã vou falar com o mar
talvez possa aconchegar um pouco de sol dentro do peito.


esta é a história de um dia de inverno





domingo, 26 de fevereiro de 2023



é noite lá fora…

habituo os olhos à luz led que debita o candeeiro.
nos dedos a caneta que escreve palavras desconexas
respiro…
a cadência da escrita perde-se na (des)inspiração e no pulsar da sombra que sobra do candeeiro.
o vento assoma à janela
é o inverno a colar-se à pele.

o silêncio vive nas paredes.

arregalo os olhos.
sobram-me sonhos…

de que vale dormirmos juntos se não olhar o teu olhar?



domingo, 1 de janeiro de 2023



hoje deixei que meia dúzia de palavras fossem desfolhadas pelo vento que acompanhava os meus passos matinais...
o silêncio respirou o meu desassossego.

falta-me o teu madrugar ao meu lado…